segunda-feira, 4 de março de 2013

ANA PAULA NÓBREGA EM CD SOLO


Arte Cristã em Foco:

ANA PAULA NÓBREGA EM CD SOLO

                                                  Marcos Mdsaiin Dias

1/ A grande expectativa que havia em boa parte da cristandade brasileira chega ao fim, com o lançamento do CD Nada Temerei, que marca a estréia de Ana Paula Nóbrega em carreira solo. Ana, juntamente com Nívea Soares, é um dos mais belos timbres de toda a trajetória do Diante do Trono e da música gospel brasileira. Além disso, possui grande capacidade vocal, o que, em termos de segurança e recursos técnicos, lhe faculta mostrar-se muito à vontade cantando quaisquer ritmos, sendo acompanhada por numerosos músicos e coro ou por uma banda restrita aos elementos essenciais. Canta ao vivo como que num estúdio. E quando digo isso, lembro-me em particular de uma sua ministração de Anseio, num dos cultos da I.B.L., disponível na internet. Em todos os sentidos, inesquecível.

2 / Nós que temos tido a graça em Cristo Jesus, Nosso Senhor, de sermos ministrados por ela em várias oportunidades, sempre percebemos em Ana Paula Nóbrega muito fortemente aquele algo mais, que somente a unção e a soberana vocação explicam. Para os iniciantes ou aspirantes à condição de levitas nas igrejas, vale insistir: unção é a capacitação especial concedida pelo Espírito Santo a alguém, para que exerça no corpo de Cristo determinadas funções, para as quais talento e habilidades humanas apenas nunca jamais dariam conta. Requer bagagem e dotação espiritual (O bom depósito, diria Paulo.) advindos da vida em estreita comunhão com Deus, exigindo também o reconhecimento de outros, mais experimentados no exercício, de que a excelência da glória revelada por um determinado vaso, em honra na casa de Deus, emana tão somente (e para a glória) Dele. Logo, está a anos-luz da mera carreira ou projeto pessoal no seio da cristandade, em função do que se convencionou chamar arte gospel.

3/ Os anos de convivência, back vocal e vocalista no Diante do Trono por certo que amadureceram Ana Paula Nóbrega em todos os sentidos: mulher de Deus, adoradora e cantora. E somente os detratores por (decaída) natureza (Ou de plantão, no meio da cristandade.) não reconhecem naquele ministério e em sua líder, a pastora Ana Paula Valadão Bessa, a dimensão de um apostolado que, Glórias ao Senhor!,  já não mais restrito às artes. Na fase de transição pela qual passou o Diante do Trono, num passado digamos recente, mesmo um membro da Igreja Batista de Lagoinha  menos atento e a par dos bastidores, entre os quais me incluo, pode perceber o quanto a Nóbrega foi exigida. Deu conta do recado; e estava sendo forjada ali para uma obra no Senhor de maior alcance e possibilidades. E, agora que o primeiro e tão importante passo foi dado, é bom saber que nossa tão querida adoradora pode contar com a intercessão de muitos. E isso vale bem mais que os aplausos e delírios de fãs.

4 / Sobre Nada Temerei, confesso que minhas expectativas aumentaram, quando da divulgação  da canção tema. Sabemos do estilo arrojado de Ana Paula Nóbrega, quando em ministração. Geralmente, canta com forte emoção e entrega; e, quase que invariavelmente, dirige à assembléia palavras de exortação profética, no ensejo de identificar-se com o público em suas necessidades espirituais e fazer com que o mesmo também se identifique às verdades espirituais salmodiadas. Daí que, certo flerte da realmente muito boa NADA TEMEREI com o estilo denominado na cristandade brasileira Pentecostal, poderia soar como indicativo de limitação quanto ao repertório, e mesmo em Ana, enquanto compositora, uma vez que assina sozinha ou em parceria todas as canções do CD.  Mas Nóbrega, como era de se esperar, foi bastante feliz nas composições e na escolha. E, em decorrência disso, fica evidente o seu se mostrar tão à vontade num passeio por canções diversas, entre baladas devocionais e pop-rock em sua maioria. E pode ela até mesmo, dado o estilo inconfundível, o timbre privilegiadíssimo e a grande capacidade vocal, redimensionar uma ou outra musica, às quais dificilmente lograriam a mesma força de expressividade noutra voz ou cantadas sem a mesma entrega.

5/ Nada Temerei  é aberto com uma seqüência (digamos louvoreufórica) de três canções, nas quais o pop se faz mais leve,  dançante; e, em se tratando da poesia, o prazer e o por quês do servir a Deus com alegria são exaltados. Destaque para BENDIGA AO SENHOR que, além de dar conta do recato, inova quanto proposta musical, num quadro geral (da musica gospel e brasileira) pouco propenso à autenticidade nas inovações. Fecham o trabalho, como que renovando à disposição inicial, dois pop-rock, agora mais pesados; entre eles, o envolvente EU QUERO TEU FOGO. Neste, a mensagem de busca por avivamento pessoal é muito valorizada pela felicidade do arranjo e da performance dos músicos (Aliás, um dos pontos forte de todo o trabalho.), sobressaindo a sustentação rítmica, em função principalmente do brilhantismo do batera e do guitarrista em seu solos. Mas destaca-se o CD, a meu ver, pelo seu conjunto de baladas devocionais, antecedidas pelo belíssimo blues SEMPRE POR PERTO. Ambos trazem versos fortíssimos, e todos eles nos permitindo a fruição do melhor da adoradora Ana Paula Nóbrega, em se tratando de timbre e entrega.

6/ Em ESTOU AQUI, a canção em forma de derramamento e súplica por dependência, refrigério e renovação espiritual, implicou em versos do naipe:

Eu preciso ajustar a visão
Aquietar este meu coração
Preciso Te ouvir falar, preciso Te ouvir falar
Vem, Senhor, segurar minha mão
Me tirar dessa agitação
Vem me desacelerar, desacelerar

Oportuníssimos e de altíssima relevância para os nossos dias e geração. A canção e cântico de Ana, mais a fidelidade e felicidade do acompanhamento, nos passam toda a carga de expressividade necessária à fruição da mensagem, atualíssima.
Temos ainda, entre outras, a belíssima MAIS e uma obra-prima em melodia e letra, a já aqui referida,  SEMPRE POR PERTO. Na primeira, a dolência da própria canção e na voz de Ana Paula Nóbrega, dado o seu timbre privilegiadíssimo, soma-se à simplicidade de uma poesia em que a busca por mais de Deus é a tônica. E temos como resultado, um efeito de sentido apropriado. E quanto à segunda, há de merecer o comentário que se segue, até por ser emblemática da felicidade do projeto musical na sua totalidade.
Uma escolha de repertório não pode basear-se apenas na qualidade e/ou na autoria das canções; mas, principalmente, na adequação das mesmas à capacidade artística do adorador; assim como na pertinência da concepção e execução dos arranjos, com pena de se mostrar a escolha (no geral ou em um ou outro caso específico) aquém ou além das partes envolvidas.
No repertório em geral e, mais especialmente em SEMPRE POR PERTO, toda a capacidade de Ana Paula Nóbrega, se assim podemos dizer, como intérprete, foi exigida, para se revelar ainda mais digna de  louvores a Deus, pelo o Ele nos tem dado, através do ministério de nossa irmã. Noutro timbre ou cantada por alguém sem a mesma condição, a canção em questão, p. ex.,  um blues de forte marcação rítmica, intensa e extensa quanto à exigência de seus agudos e de duração razoavelmente prolongada, estaria comprometida. Uma audição mais atenta dá-nos a percepção ter lhe faltado, como apoio, um grupo de back vocals, exigência do próprio gênero? Mas o que poderia soar como irreparável perda, foi bem compensado pela qualidade dos músicos, com já frisamos, outro ponto alto de todo o trabalho. E cabe destacar que SEMPRE POR PERTO, numa belíssima combinação entre o Salmo 139 e assertiva paulínea sobre o amor que nos constrange, é coroada com os seguintes versos:

Onde estou, para aonde eu vou
Tu estás sempre por perto
Não há como fugir desse amor e nem quero

A compositora Ana Paula Nóbrega foi muito feliz ao unir a mais importante poesia produzida pelo homem com um dos considerados mais criativo e representativo estilo musical da história da música. Além da reverente referência a dois ícones, um da modernidade e outro da antiguidade, repôs as coisas em seus devidos lugares; dizendo, nas linhas dos seus versos e nas entrelinhas das releituras, que amor rasgado (de todo coração, alma, força e entendimento), enfim, adoração, se deve somente a Deus. Apesar de não fugir ao caráter de criação em cima do já feito, é música com vocação para tornar-se um clássico.

7/ Por se tratar de uma audifruição inicial; na qual fomos impactados tanto pelo fim de uma de nossas mais acariciadas expectativas, quanto pela necessidade e oportunidade da obra; além, é claro, do fato de sermos suspeito para falar, apaixonado que sou pela voz feminina num cântico de adoração e membro da mesma igreja local; é bem possível que o meu eventual leitor, acompanhante da carreira e intercessor de Ana Paula Nóbrega  (Recuso terminantemente os termos fã, fã-clube e coisas do gênero.), estranhe a ausência de comentário sobre TU ÉS A FONTE e PRA TE ADORAR ou, quem sabe, uma outra peça não destacada nesse ensaio crítico, regido inevitavelmente pelo gosto pessoal. Dessas direi apenas, na modesta opinião de quem sabe música tão-somente de ouvido e tem agora um filho iniciando música na UFMG, que são canções com forte vocação para se tornarem clássico. E nada nos resta, senão ouvir e enlevarmo-nos. Orando sempre para que a trajetória espiritual de Ana Paula Nóbrega não deixe de fazer jus ao bom depósito que lhe tem confiado o Senhor. Como se diz, para a nossa alegria.
                                                                                  
                                                           Belo Horizonte, Março de 2013.
       

Obra: CD Nada Temerei
Artista: Ana Paula Nóbrega
Gravadora: Som Livre
Gênero da Crítica: Ensaio 

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