quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Arte Cristã em Foco 01: TALENTO PROMISSOR



 Arte Cristã em Foco 01:

O TALENTO PROMISSOR DO GRUPO NÃO A NÓS A GLÓRIA

                        Marcos (Madsaiin) Dias

                                                                                                               

1/ Que o meu possível leitor possa se fixar na letra de canção publicada mais abaixo. É de autoria de Rafael Pires e foi musicada por Glênio Vilas Boas em belíssima canção, cujo estribilho (Não a nós a glória...) é um verdadeiro achado musical, digno de ser inscrito como diamante nos corações, assim como muitos outros constantes do CD de estréia de um grupo musical que surpreende pela postura e maturidade artística. Trata-se do Não a nós a glória, da 4ª. Igreja Presbiteriana de Belo Horizonte.

Tu és desde a eternidade, meu Deus
És tão puro de olhos, não podes ver o mal
Acima de todo principado tu estás
Quem se compara a ti, meu Deus?
Quem pode livremente te ofertar
Se tudo é teu e o teu domínio é para sempre?
Nossa bandeira, única razão de ser
Poderoso, quem poderá se orgulhar
De nomes ou riquezas deste mundo?

Não a nós a glória
Não a nós a honra
Tudo o que temos vem de ti
Nós prostramos aos teus pés
És incomparável        

Não a nós a glória
Não a nós a honra
Tudo o que temos vem de ti
Te rendemos graça e louvor

2/ A  ars poética em questão é um testemunho da perenidade da Bíblia em sua atualidade que atravessa séculos e milênios, quando enfoca a grandeza do Pai e a fragilidade de seus filhos. Ela também nos oferece a melhor panorâmica de todo o trabalho do Não a nós a glória, realizado por um grupo de jovens com os pés no chão e a cabeça no lugar certo: na Eternidade. E é o que se espraia pelos títulos e letras das demais canções, dez ao todo, às quais foram precedidas por nada menos que Castelo Forte, de Martinho Lutero, em versão diminuta para uma surpreendente quanto reverente abertura, em muito bem-vinda atitude de firmeza teológica.   

3/ O brasileiro é conhecido e reconhecido por sua criatividade. E sendo o país de dimensão continental, pipocam aqui e ali talentos individuais ou coletivos dignos da atenção daqueles que prezam a manifestação artística em todas as suas variantes e motivações mais nobres que a mercadológica. Não tem sido diferente com a música de louvor e adoração. É sabido que há um sem número de pessoas e grupos espalhados pelo país, no mais das vezes com ecos apenas em suas comunidades, região e, quando muito, dentro de uma determinada denominação, a qual pode catapultá-los ou tolhê-los. Todavia, um ouvinte, mais atento e menos influenciável pelo aspecto fortemente icônico (por que imídiatico?) e imidiático (por que icônico?) de nossa cultura poderá, se quiser,  deparar-se e apreciar como digno de toda a aceitação o trabalho que vem sido feito por muitos de nossos irmãos. Jovens no mais das vezes; e alguns, com vocação, caso permaneçam na graça e na unção, para falar às gerações atual e futura.

4/ Este parece ser o caso do grupo Não a nós a glória, cujo estréia em CD traz boa qualidade técnica de gravação, projeto gráfico assinado pela QuartelDesign e, sobre tudo, algumas excelentes composições e arranjos musicais. A canção homônima, por exemplo, juntamente com Bálsamo, também homônima do CD da cantora Graziela Maia, lançado em 2012, estão entre mais profundamente tocantes que este ano ouvi. Mesmo se comparadas aos lançamentos de nossos mais consagrados ou já estabelecidos adoradores.

5/ Em Não a nós a Glória, uma seqüência de composições 05, 06 e 07 (És o Cristo, Redenção e Não a nós a glória, respectivamente) dá-nos conta, parece-me, das mais marcantes características do grupo e sua proposta: a centralidade da soberania do Pai e da cruz de Cristo em todas as letras; a sobriedade nas interpretações: fervorosas, mas sem grandes arroubos, adequadas, portanto, ao pop-rock e às baladas que pontuam, do início ao fim, o CD; e a opção pela discrição (pelo menos nesta fase inicial), manifesta na capa e nos encarte, nos quais não se vê  fotografia dos integrantes, mesmo da gravação feita em estúdio e também ao vivo, dia  23 de junho, e sequer um número de telefone para contato: apenas o nome do grupo e da igreja à qual seus membros pertencem. Se há algum excesso, encontra-se nos muitos agradecimentos, prova de que toda comunidade, com seus cerca de duzentos membros e freqüentadores, orou e se envolveu por inteiro no sentido de se dar um crédito aos jovens e talentosos músicos. Crédito que o meu eventual leitor poderia dar-lhes também, caso queira ter o privilégio de apreciar verdadeiros diamantes em processo de real lapidação, além de acompanhar e interceder por carreiras realmente promissoras. Merecem esses jovens além de nossa oração, a devida atenção de quem não vê apenas no fator exposição critério para definição de qualidade e unção. Se é que, quanto a esta última, pode mesmo alguém atestar ou questionar, a menos que se tenha irrefutáveis elementos.

6/ São dois os vocalistas do Não a nós a glória: Rafael Pires e Glênio Vilas Boas têm bom timbre, afinação e potencial para aperfeiçoamento no mister. Outras dezesseis pessoas, em sua maioria mulheres, fazem os backing vocals. E mesmo sendo suspeito para falar, apaixonado que sou pela voz feminina num cântico de adoração, todo o potencial do backing, em termos de variação e sobreposição de vozes, não foi devidamente explorado, havendo, assim, certa perda. Acredito que seria um grande ganho a melhor e maior exploração do grupo nos trabalhos futuros. Fica, portanto, aos produtores a sugestão. Ótimos são os arranjos instrumentais e competentes os músicos, mormente os dos instrumentos de cordas, além de Glênio, no teclado e nos samplers, e do batera André Domingues.

7/ Outra motivação, além da adoração, dignificou ainda mais a iniciativa: parte de sua renda é destinada à obra missionária. Dito isto, fica a dica. A quem se interessar possa.   
     
Artista: grupo musical Não a nós a glória
CD: homônimo
Produtor: 4ª. Igreja Presbiteriana de Belo Horizonte
Ano: 2012                                                      
Gênero da crítica: resenha


terça-feira, 18 de dezembro de 2012

A Cristandade Pós-moderna em Questão





APOLOGIA DA VERDADE: Manifesto 01



   Proponho neste texto a defesa de algumas verdades bíblicas fundamentais à fé e à moral cristã, num tempo de muita confusão e promiscuidade, fazendo o uso de um tipo de linguagem pouco usual. Não se trata, porém, de um caso isolado e impossível de se invocar alguma similaridade, até com a própria Bíblia: caso do capítulo vinte e três do Livro do Profeta Ezequiel. Ainda que não tenha eu utilizado linguajar tão forte, como Deus permitiu ao profeta, este texto e sua linguagem poderão causar alguma estranheza. Quem, porém, aos mesmos sobreviver, entenderá a pertinência da mensagem. É a minha oração.  

                                                                                       

 CRÔNICA (QUE SE PRETENDIA GOSPEL)
DE UMA EMBLEMÁTICA MANHÃ DE DOMINGO

                                                                                             

Por que se amotinam as nações e os povos tramam em vão?

Os reis da terra tomam posição e os governantes conspiram unidos
contra o Senhor e contra o seu ungido, e dizem:
“Façamos em pedaços as suas correntes, lancemos de nós as suas algemas!”

Do seu trono nos céus o Senhor põe-se a rir e caçoa deles.
Em sua ira os repreende e em seu furor os aterroriza, dizendo:
“Eu mesmo estabeleci o meu rei em Sião, no meu santo monte.”
(Salmo 2:1-5)


Conheço as suas obras, o seu amor, a sua fé,
o seu serviço e a sua perseverança,
e sei que você está fazendo mais agora do que no princípio.

No entanto, contra você tenho isto:

você tolera Jezabel, aquela mulher que se diz
profetisa. Com os seus ensinos, ela induz
os meus servos à imoralidade sexual
e a comerem alimentos sacrificados aos ídolos.
(Apocalipse 3:19-20)


     O enfrentamento das provações nesses últimos tempos fez com que me tornasse um homem de tripla jornada. E, em decorrência disso, nos Sábados que antecedem à manhã do primeiro Domingo de cada mês, tenho a preocupação de pôr a casa em ordem e ir-me deitar relativamente cedo para, na volta do culto dominical, me entregar ao mais completo e necessário descanso. Trata-se do coroamento de mais um dia memorável em que adoro, ofertando e participando com os amados da mesa do Senhor. Não seria diferente, pensava eu, nesse Dezembro. Manhã de Sábado: duas (já não mais adiáveis) visitas a famílias delas realmente necessitadas. Na volta, passo pelo supermercado e em seguida no sacolão, às compras dos víveres da semana subseqüente. Daí, é chegar em casa e aquilo de lavar e passar roupas, dar uma arrumada essencial nas coisas, preparar as refeições, de modo a ter apenas a preocupação de requentá-las, eximindo-me ao máximo de mais e maiores esforços. Não se trata de uma observância, digamos sabática, do Dia do Senhor; mas de estratégia funcional no sentido em que o repouso se faça,  mormente ao nível da psique. Creio ter sido a única vez em que senti certo alívio, ao saber que não haveria a reunião da Célula. A líder me ligou, dizendo ser preciso participar do ensaio de formatura do seminário e que a diplomação estava marcada para aquele mesmo horário, início de tarde, no Sábado seguinte. Comprometi-me, óbvio, honrá-la com minha presença, mas já analisando em meu íntimo um outro longo e abençoado dia. Não como aos quais eu por agora me reporto. Em verdade e em verdade vos digo: não dava pra imaginar.
     
     1/ DA INTEMPESTIVA INTROMISSÃO DE “O CARA” NO DESCANSO SABÁTICO DO MEU DIA DO SENHOR. Feita a preparação, deitei-me ainda na faixa das vinte e duas horas. Ensejava acordar antes da manhã e vigiar com o Senhor (como é o costume) pelo menos por uma hora. Depois bastava me aprontar, fazer o desjejum e sair. Cearia e ofertaria num dos cultos matinais. Se possível, pensava eu, cioso do rápido cumprimento de tão esperado propósito, no culto das seis. É quando surge na minha rua, lá não sei pelas quantas e em performance pra lá de intempestiva, “O Cara”...
    Apurando com exatidão no meu celular, faltavam pouquíssimos minutos para as duas da madrugada, e eu nem tivera a preocupação de botar o tapa-ouvidos. Tanto pelo incômodo da coisa, quanto pelo cansaço do dia. Longo e trabalhoso dia, o qual me fizera duvidar se teria, caso eu não apelasse pro despertador, condições de pôr-me de pé, assim digamos de um salto!, e partir para o planejado, com risco zero de sonambulismo. Sim, eram quase duas da madrugada, eu estava até sonhando, e...  Sabe àquela canção do Roberto Carlos, que anda sendo tocada à exaustão, queira você ouvi-la ou não? Sim, a mesma que, parece-me, faz a abertura de mais uma das abomináveis novelas global das oito, às quais (Falo dos folhetins.) muitos crentes do meu país acompanham, como se estivessem participando de algum espiritual banquete diário?... Pois é... Tipo assim: coisa de maná de Mané no deserto! Mas voltando ao assunto em pauta: “O Cara” tinha chegado no pedaço, quer dizer, na porta do seu portão (Como disse certa feita o empolgado locutor de um carro de mensagens.) de uma não sei qual de minhas vizinhas. Ou vizinho? Masculino do gênero feminino? Sei lá, os tempos são mesmos trabalhosos e pré-apocalípticos... Chegou, estacionou e executou-a. A música. Só que no mais alto volume do estrondoso som de seu automóvel. Romântico “O Cara”, muito romântico; porém inconveniente e senso escasso do ridículo.
     Menos mal que a coisa ficou só nisso. Parece que ele queria apenas demarcar, performática e pontualmente, território no coração da morena. Devia estar mesmo muito arredia. E não é pra menos. Menos mal. Acontece de às vezes sermos surpreendidos em plena madrugada com carros de mensagens ao vivo, trazendo um locutor paramentado e seu microfone sem fio às mãos. E aí, tudo aquilo que bem poderia ser dito e refletido no aconchego do lar, ao longo de um ano inteiro, ou, no máximo, em uma reunião para os íntimos, tende a se tornar o último acontecimento de mais uma noite insone na Rua dos Megafones, Bairro dos Alto-Falantes. Seguem-se, depois, impreterivelmente os bailes. E, às vezes, funk. Quanto a estes, Valha-nos Deus!, pelo menos na memória de meus tímpanos de sua dicção perverso-infantiloide já saturados, jamais atingirão o status  da saudade.
     Imagina agora se a coisa descamba para o outro extremo do mau-gosto e terminasse em baixaria? Ou tragédia. Há anos que estas últimas vêm alimentando a pauta do jornalismo truculento da televisão e fornecendo manchetes sangrentas às páginas dos tabloides.  “Inconformado com a separação, fere a ex e depois tenta mutilar-se. As crianças, perplexas, assistiram a tudo.” Sangue de Jesus tem poder!!! Ainda que os tempos sejam mesmo pré-apocalípticos e o capítulo vinte e dois versículo onze do referido livro sagrado vá se revestindo de inexorável atualidade. Menos mal?
       
      2/ INTRODUÇÃO ÀS CAUSAS E AOS EFEITOS DO ADVENTO DE O MANCEBO CONTEMPORÂNEO NA CRISTANDADE PÓS-MODERNOSA. “O Mala” se foi, e eu concluí ser mais prático vigiar com o Senhor pelo menos por uma hora, porém, das duas às três. Feito isso, pus o despertador pra me acordar às sete. (Faz tempo que minha vida é regulada por números: das seis às vinte duas.) Sendo assim, eu cearia e ofertaria ao Senhor, porém, no culto das oito. Tem sido impraticável para mim o culto das dez.
    Banho, desjejum, corrida ao ponto de ônibus (Senhor, qual deles? Tenho o privilégio de mais de uma opção.). E aconteceu de, após eu adentrar sacolejante recinto, poder considerar com indagativa alegria e perene curiosidade a figura de O Mancebo Contemporâneo. Havia ali, evidentemente, outros amados e amadas. Cerca de uma dezena de irmãos da mais variada faixa de idade dirigia-se ao nosso complexo de adoração a YHWH. Vovô, pixaim branco-geada e sem a vaidade de toda sorte de tinturas na cabeça, apenas  M. Madsaiin Dias.
     Na perspectiva do conceito de tribos, nosso contemporâneo mancebo trajava ao estilo: contrastava eternamente com meu paletó e camisa de mangas compridas, ainda que desprovidos de gravata. Seu style, num estalo, assim bem ou mais poderia: tênis de marca, camiseta silkencrada, bermudão, boné com a aba propositalmente jogada para trás; fone num dos ouvidos; e, como não poderia deixar de ser, o mochilão. Foi de onde tirou pequenina Bíblia e pareceu-me fazer, durante parte do trajeto, responsiva leitura devocional. Até aí tudo bem. Nada absolutamente de surpreendente na boa compostura de O Mancebo Contemporâneo, se antes não tivesse ele tirado de um dos bolsos daquela mesma mochila o aparelho (Tablet ou celular? Perdoem-me: Vovô ainda não sabe discernir que é o quê...), ao qual estava plugado o fone de ouvido, e concatenado curiosa e (até onde peço discernimento a Deus) emblemática ligação. Quanto ao teor da mesma, fator preponderante para este arrazoado, a partir desse instante, vir a se tornar num quase azorrague de cordas, deve primeiro o leitor aguardar o fechamento dos parênteses que se abrem, como que num introito ao teológico tratado apologético.
     (Ouvíamos, durante a viagem, numa estridência que me fez lembrar a inconveniência de “O Cara”, canções gospel emanadas de algum dos tablet ou celular dependurados preguiçosamente no corrimão ou assentados confortavelmente nalguma poltrona. Além da dissonante estridência, insistiam os cânticos num tipo de letra que costuma também a vovô intrigar. As músicas em si são até melodicamente belas, mas os fundamentos não bíblicos em que estão apoiadas tal poética e ars poética merecem atenção, produto que são da disseminação, no meio da cristandade, de velhaco e contemporâneo paradigma:  a “teologia do deus bonzinho”. Um deus incapaz, por tão tolo e indefectível amor, de agir com os atributos da justiça e da santidade, Rob Bell que o diga. Principalmente quando a coisa diz respeito (E quais a YHWH não diriam?) a sua, parece mesmo acreditar alguns, paspalhona pessoa. E do jeito que a coisa vai, já não será novidade ou motivo de escândalo algum ouvirmos, daqui há pouco, versos do naipe: “Mesmo que lhe vire as costas ou lhe cuspa no rosto, o Senhor ainda me beijaria a face; e ainda que eu se me faça profano como Esaú e caminhe resolutamente para o inferno, ele se arrastaria, como amante desdenhada/desdenhado e pingo nenhum de auto-estima, me agarrando pelos pés;  ainda que eu me decaia às coisas profundas de Satanás e leve comigo-Euzinho um terço da humanidade.” Pois é... Não fosse de nosso conhecimento tantas e tantas histórias em que tais expectativas e projeção de O Temor de Isaque (Temor e tremor de Paulo, em consonância com Salmo Segundo; fogo consumidor preste a consumir os adversários, de acordo com o escritor das Cartas aos Hebreus.); não tivéssemos a ciência de tantas histórias em que tais expectativas e projeções de YHWH foram trágica e horrendamente frustradas, eximiria por certo da ironia enquanto figura de pensamento. Amenizemos, porém,  teologando em DPFT (Dizeres & Provérbios do Fim dos Tempos):

TRABALHOSOS TEMPOS ESSES,
NOS QUAIS SE CRIA TANTA CELEUMA
SOBRE QUESTÕES BÍBLICAS
DE CLARO & DEFINITIVO PARECEr                      (I Timóteo 1: 5-7; II Timóteo  4:1-4)                              

DEUS A TODOS, SEM EXCEÇÃO,
AMa   PORÉM, NEM SEMPRE
SE AGRADA  DO  NOSSO PROCEDEr                   (I Coríntios 10: 1-13; Hebreus 4: 1-13)

E ISSO TRAZ  IMPLICAÇÕES...              (Apoc. 21: 5-8: 22: 10-15: I Cotíntios 5:9-10)
QUE AQUELES QUE O ODEIAM
RECUSAR-SE-ÃO OUVIr JÁ                                            (II Timóteo 3: 1-5; Tiago 4: 4-5)
OS QUE NELE SE COMPRAZEM

- A TEMPO & FORA DE TEMPO;
QUER OPORTUNO, QUER NÃO. _
JAMAIS DEIXARÃO DE LHAS DIZEr         (Ezequiel 3: 16-21; Tiago 5: 19-20)

     É o que faço agora, voltando ao advento de O Mancebo Contemporâneo, e à emblemática ligação por este efetuada, não sem antes tecer obrigatórias considerações: A - Como estamos lidando com as tribos, povos e nações atualmente atraídas a Cristo (ou a quê?) pela Igreja brasileira?  B -  E o que lhas oferecer (Vede que a forma, arcaica, do pronome é mesmo intencional.) em termos de discipulado, ovelhas que são, parece-me, no mais das vezes, sem que se preze pastor? Não faltam apóstolos, profetas e missionários. Dignos ou não das aspas. Nesses últimos tempos, estamos convivendo (E Glórias a Deus por isso!) com irmãos e indivíduos de elevado nível social e acadêmico, em contingente historicamente bem maior que antes, ocupando espaços, mormente os de honra, em nossos templos e singelos corações. Que rostos e vestes haverão de adquirir estes ou, num contraponto, darão os mesmos às comunidades que historicamente compuseram a Casa de Deus (Coluna e baluarte da verdade.), os resgatado da mídia, do show business, das grandes fortunas e da moda? Certo pastor (e estilista) disse em rede nacional, através de um programa de debates ao vivo de uma determinada TV cristã, não ter peso de consciência em vestir as suas muitas clientes socialites com um, Se segura!,  tomara-que-caia. Afinal, como poderia dar ele conforto e qualidade de vida à família em primeirissíssimo lugar? E o que faço de I Timóteo 2:9-10 e passagens afins, constantes de nossa tão desprestigiada Holy Bible, em detrimento de tantos e tantos paradigmas? Rasgamo-las?
     Quem, afinal, haverá de formatar quem ou a quem? E seria Mnasom taxado de utópico ou ferozmente acusado de religioso se (A quem se interessar possa!) remontássemos-nos aos dias e o ideal de Atos capítulo cinco, versículo doze aos dezesseis, mas com parada obrigatória no treze; dado o risco de desencaminharmo-nos (ou já estaríamos nos descambando?) para os versos três e quatro da Carta de Judas (Irmão e servo do Senhor.), como que num três por quatro de uma igreja jeitosamente laodissense? Pois é... O contemporâneo mancebo tirou de um dos bolsos do mochilão o celular. Teclou-o e, tendo sido efetuada a ligação, abriu-a e a concluiu em diminuto diálogo de uma frase apenas, seguida de “intercessória” oração:
  _ ... 
  _ E aí, Cê vai ao show da Ivete? 
        
     3/ É QUANDO O PRESENTE, REPETINDO O PASSADO, DÁ A MÍNIMA PARA LIÇÃO PRIMEIRA (A NÃO SER ESQUECIDA) DE ECLESIOLOGIA APOSTÓLICA, MAS NÃO ROMANA. Ivete Sangalo, cantora popular e considerada a rainha do carnaval brasileiro... Repetindo: Ivete Sangalo (Vírgula.), conhecida cantora popular e considerada a rainha do car-na-val brasileiro (Vírgula.), daria um show numa das principais praças de nossa cidade naquele mesmo dia (Ponto final?). Coincidiu de o ônibus, em seu trajeto, passar por aquele espaço popular pra pular ou, em determinadas situações, para se pular. E de o adventício mancebo contemporâneo fazer cumpridos os seus olhos em direção à estrutura montada para acolher o (Palavra de uma repetitiva mídia escrita, falada e televisada...) megaevento. Quem foi ao templo? E quem do templo ali voltaria e pra quê? É possível que já vá se tornando uma prática (De alta condescendência, camuflada simpatia?) sair-se dos cultos e se ir para Tessalônica, quer dizer, a balada. Não é mesmo infernal?
    Considerando o recente acorrido, dois acontecimentos históricos vieram-me à memória: Primeiro: o fato da igreja, hoje romana, ter sido, em tempos imemoriais, de fato, apostólica; e segundo: eu ter, nesses últimos dias, acabado de ser melhor informado, através de facebookeano amigo, sobre algo terrível, digno de incomensurável consternação. Fosse M.  Madsaiin Dias algum personagem do Antigo Testamento, da estirpe daqueles homens dos quais este mundo jamais seria digno, e rasgaríamos as nossas vestes, e jogaríamos poeira sobre nossas cabeças, e prantearíamos por sete dias e noites inteiros, sem levar pão à boca,  recusando-nos terminantemente a sermos consolados, senão pela chegado do avivamento. Era uma vez uma igreja perseguida (imersa em questões doutrinárias inconcebíveis para um tempo de tão grande tribulação) e um império, seu opressor. Mas, por razões que só os cátedras e depois as catedrais, resolveram, num dia de sol, unirem-se em bodas, mas não a do Cordeiro. O que vive e esteve morto, antes mesmo da fundação do mundo. E quanto à Pérgamo, deu no que deu... Ela, depois,  se auto-proclamaria a única, coroando-se com sem igual tiara. Mais apocalíptico, no entanto, é o que estava reservado à Pós-Modernidade, já então repleta de evidentes sinais do fim do mundo. E que não lha falte DPFT. Soma-se a peruas de Jesus; oração da propina; neófitos internautas fazendo ousadas asseverações sobre o que não sabem ou se esqueceram de perguntar; esoterismos teológicos; escândalos de toda ordem, mormente financeira; Demas & Diótrefes; teólogos ateus ou já apartados da pureza e simplicidade devidas a Cristo; bate-bocas  (de fazer corar de vergonha o mundo cão da TV aberta) entre líderes denominacionais; Antipas, nas redes sociais e na mídia, sistematicamente antipatizados; “escolhidos”  com k de kaiser e skol; além do termo Piedoso (Tão caro ao Espírito nas exortações pastorais de Paulo...) ir adquirindo alto teor de pejoratividade entre a contemporânea mancebaria  e da introdução, já não mais dissimulada, de indivíduos no espírito do homem do pecado e filho da perdição na igreja local; sim, do que (Ufa!) se soma a tudo isso,  meu facebookeano amigo reformado deu o seguinte testemunho: Determinada denominação, das mais tradicionais, reuniu, não faz muito, em convenção, parcela expoente de seus adeptos norte-americanos. Na pauta, a ordenação ou não ao santo ministério da Palavra de indivíduos de opção sexual em total confronto com o ensino das Santas Escrituras. Eram cerca de mil delegados... E, no final, a coisa acabou num racha. Diria um acadêmico, terminou em um grande cisma. Digno dos maiores abalos sísmicos multiplicados e elevados à enésima potência do infinito, em seus estragos de vergonha e morte eterna a quantos milhares de milhares? Somente a Eternidade irá  dizer. Poder-se-ia imaginar minoritário o grupo dos indivíduos dispostos a fazer loucura no Israel de Deus, mas não: metade dos delegados, fidedignos representantes de suas respectivas comunidades, optou por retirar o adjetivo apostólico do cristão substantivo: trocaram-no pelo mortalmente “sarado”  contemporâneo. E a quem se consternar ainda possa: é mesmo coisa para o Dragão e seus ministros, travestidos de anjo de luz, comemorarem com skol dos “eskolhidos”, seguindo-se, à cada reciclável latinha ou litrão, uma bebericada de whisky escocês. Certo jovem cristão, tão espiritual, parece-me, quanto espirituoso, publicou algo tipo assim em seu blog: Bar gospel, boate gospel, motel gospel: só falta inventarem o inferno gospel. Penso que, desse modo, muitos haveriam de já se ir acostumando à eternidade que verão. O problema é quando tão densas trevas ofuscam a glória do mistério de Deus a ser revelado no cristão dentro da própria Igreja. Menos mal que o tempo reservado à festa da carne de Satã e seus ministros, na companhia dos indivíduos que os quiserem acompanhar e à terça das estrelas decaídas do céu haverá de ser abreviado. Se é que já não está.
     Apóstolos, da novíssima reforma, têm instado, nesses tempos pré-apocalípticos e vaticinadores do “Sereis odiados de todas as nações por causa do meu nome.”, que a Igreja deve conquistar os sete montes da sociedade. Mormente o da cultura, para o governo de um mundo que, desde a expulsão do homem do Éden, jaz no maligno. Ou estaria João ficando também obsoleto? Penso que tal monte já desabou sobre todos nós, mas na forma apetecível de musse de chocolate ou de multicolorida gelatina. E está como que a engolir-nos, qual areia movediça. Das comunidades representadas por aqueles indivíduos na pós-moderna convenção religiosa, qual o testemunho bíblico que se pode dar, à luz da piedade e da sã doutrina? Casa de Deus, coluna e baluarte da verdade, ou trono onde Jezabel, Poderosíssima!, habita? Voltando à igreja local do paraíso das cirurgias plásticas e do irrefreável crescimento da indústria da moda, dos divórcios e dos cosméticos e suas questões, quem sabe refreáveis pelo avivamento e busca sem trégua da santidade. Não posso e nem devo, terminantemente, julgar temerariamente; mas por discernimento de espíritos e análise não leviana de comportamentos e de nossas mazelas sociais, é preciso que se conclua: se O Mancebo Contemporâneo foi ao show da Ivete Sangalo, não para fazer evangelismo de poder e batalha espiritual, ainda que ao som periguético e à carnalidade ao mesmo inerente, há  que se lamentar... Com muito pano de saco; com muitíssima poeira na cabeça; e por sete  dias e sete noites de inconsolável pranto e irreprimíveis gemidos. Porquanto a graça de Deus se manifestou salvadora a todos os homens, educando-nos para que, renegadas a impiedade e as paixões mundanas, vivamos, no presente século, sensata, justa e piedosamente, aguardando a bendita esperança e a manifestação da glória do nosso grande Deus e Salvador Cristo Jesus, o qual a si mesmo se deu por nós, a fim de remir-nos de toda iniquidade e purificar, para si mesmo, um povo exclusivamente seu, zeloso de boas obras (Tito 2:11-14).
    Contra o púlpito de todos os não bíblicos paradigmas fica o registro, o qual há de testemunhar à consciência de quem ainda queira, num tempo de tanto comichão nos ouvidos, a voz do Espírito escutar. Mas Laodicéia não vai ouvir... Então, que Cristo Jesus, Nosso Senhor, tenha compaixão de todos nós, apressando a Sua gloriosa vinda.                                                                         

                                             Marcos (Madsaiin) Dias
                                                                 Belo Horizonte, Dezembro de 2012.

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Arte Cristã em Questão 01: TÚNEL DO TEMPO


                              Festival de Danças Túnel do Tempo:
                                Indagações de Um Expectador Engajado.

                                                  
                                 
1. A propósito do festival de danças Túnel do Tempo, realizado pela Oficina de Adoração, dias 09 e 10 de Novembro, no Minascentro, em Belo Horizonte, a liberdade cristã faz-me tomar emprestado de uma entrevista que li, concedida alguns anos atrás pelo pensador francês Raymond Aron, a expressão expectador engajado.  É o termo que melhor define minha experiência de um dos componentes da grande platéia presente no primeiro dia de apresentação, além de dar-me o viés mais apropriado para, na condição de livre pensador e artista cristão, tecer as considerações que se seguem. Que que sirvam para a edificação, sendo que a mim pessoalmente o festival impactou, ao ponto de constranger-me a reflexão e às indagações neste ensaio manifestas, mesmo eu intuindo que somente o tempo e muita oração irão satisfatoriamente respondê-las.   

2. A Oficina teve como principal proposta em Túnel do Tempo, num espetáculo atemporal, “retratar a evolução da dança desde a pré-história, quando os homens das cavernas dançavam para se aquecer e registravam seus movimentos por meio de pinturas rupestres, até uma época onde a dança será inevitável.” O que implicou em um número considerável de coreografias, vinte e uma ao todo, tornando-se inevitável que o passeio coreográfico pelos diversos estilos tivesse durações e performances variadas, tendo-se em vista a representatividade histórica e/ou religiosa (Hebreus, Valsa de Castelos, p.ex.) ou o seu apelo de modernidade (Anos 60, Dança de Rua, Ballet Contemporâneo eTechno.) ou mesmo a sensibilidade (tendência mais atual) de se privilegiar, numa perspectiva de inclusão e celebração das diferenças, o biotipo do bailarino, como se viu na Charleston.
Acredito que o maior desafio, vencido com êxito pela direção, foi o de não deixar ficar cansativo o espetáculo, dada a  abrangência do leque temático e a heterogeneidade do público esperado e que se fez presente. A título de testemunho: a platéia do primeiro dia, cerca de mil pessoas, embora tivesse seu maior contingente jovem e adolescente, foi também formada por famílias inteiras e, consequentemente, muitas crianças. A minha frente estava uma dessas, sendo que a filha do jovem e lindo casal, uma garota de no máximo cinco anos não desgrudou os olhos do palco um só momento. E olha que a apresentação, marcada para as vinte e uma horas, demorou um bom tempo pra começar...
Penso que contribuíram para tão grande êxito, o acerto da coordenação artística na concepção e condução do espetáculo, mais a qualidade do suporte técnico (som, iluminação, etc.), além, é óbvio, da própria performance dos bailarinos, mesmo sendo os corpos de baile, como não poderia deixar de ser, heterogêneos em sua formação. Naquele primeiro quesito, há que se destacar a agilidade com que os mesmos (compostos de adultos, jovens ou crianças) fizeram o revesamento no palco, seja mediado por um rápido jogo de luz, cores ou sombras ou pela simples e necessária junção do início de uma coreografia no final de outra. A utilização deste segundo recurso, bem mais recorrente nas coreografias mais modernas, exemplificou, como que numa metáfora ao viver contemporâneo,  a velocidade com que as coisas vêm se sucedendo, da metade do século XX para cá. E quando nos momentos/movimentos de necessária inflexão, antecedidos por brevíssimos interregnos na execução musical e pela completa ausência de luz no palco, louve-se o brilhantismo performático do artista, caso dos ballet Clássico e  Contemporâneo. Até porque estas modalidades, excetuando a legítima dança de adoração, representariam a evolução máxima da arte ao nível da experiência humana. Cumpriu-se, portanto, o propósito: uma vez que apresentação das coreografias destacou-se com sendo um dos dois ou três ápices performáticos de todo o festival, em função sobre tudo do esbanjamento de graça e talento de quem as executou em belíssimos solos. Simplesmente inesquecível.

3. Também de vital importância para a beleza da apresentação o figurino: realmente de encher os olhos, além de resultantes de pesquisa histórica bastante feliz, assim como a de todo o espetáculo. O viés com que se voltou ao passado e se discerniu o presente não é o do olhar estanque ou rotulador, sabedores do que em Cristo Jesus somos e do que, em se tratando da Eternidade, irá mesmo prevalecer (ou continuar) é a adoração. Nem por isso, quaisquer que sejam as contribuições, em termos de linguagem e expressão artística, ainda que divorciadas desse espírito ou nascidas e cultivadas em momentos históricos ou em ambientes nada a ele propícios, para não dizer antagônicos, deixaria de merecer a assertiva paulínea do “Examinai tudo e retende o que é bom.” Mas é justamente nesse ponto que  pertinentes indagações acabam surgindo e, em decorrência das mesmas, a necessária busca por respostas. Bíblicas, teológicas,  sobriamente aceitáveis. E que a sabedoria bíblica possa compensar (ou mesmo suplantar) o que estaria a nos faltar ao nível do teórico ou epistemológico, mesmo não sendo esse último, evidentemente, a medida pela qual devamos nos medir e ao que fazemos. Nem mesmo arte (Efésios 4: 11-16).  

4. O que é arte? Existiria uma arte (essencial ou formalmente) cristã? Como esta se definiria e se expressaria? Que arte ou que expressões artísticas seriam lícitas ao artista cristão utilizar e/ou por meio delas (se é mesmo possível) expressar-se? Tudo (O que não seja pecado, é o que está implícito no texto bíblico.) nos é lícito; mas tudo (mesmo que não seja pecaminoso) realmente conviria? E tendo-se em vista a Queda e a depravação moral do gênero humano (Penso estar dirigindo-me a cristãos que sejam realmente cristãos.), o que se resgatar do domínio de Satã, criador coisa de nenhuma e usurpador por (decaída) natureza? E do que abrir mesmo mão, tendo-se em vista já se ter transformado em ícone ou símbolos de (sua) rebelião? Bem sabemos que a soberana vontade de Deus é a nossa santificação, que para isso fomos chamados (I Tessalonicenses 4:1-7), peregrinos que somos e fugitivos de Babel. Não eu tenho respostas. E nesse primeiro momento, mesmo ao nível de simples especulação, não as proporia. Todavia, acredito haver nas Escrituras, se bem interpretada, a melhor diretriz para tudo na vida (e também nas artes).

5. Resta-nos, por eliminação, determos-nos naquilo que consideramos ser o óbvio ou denominadores comuns, mas nem tanto, se, p. ex., levarmos em conta as determinações do corpo diretivo de uma de nossas igrejas tradicionais (a Presbiteriana) com respeito à utilização da dança no próprio ambiente de culto. Se vemos aí um extremo, em minha opinião, não teologicamente justificável; na outra ponta, teríamos o fato de já ser bastante  perceptível hoje em dia nas mais variadas manifestações artísticas tidas por cristãs os extremos de uma liberdade também questionável enquanto tal.
Nossa liberdade é a servos (um dos outros), os quais, mesmo jubilosos da condição de filhos, a si mesmos se oferecem à adoração, ao serviço e à obediência, para a glória do Pai. Esta diretriz suprema exemplificada em Cristo Jesus (Filipenses 2: 5-11 e Marcos 10:45) aliada à consciência do fato de sermos participantes de  Seu corpo místico e membros uns dos outros,  deveria aguçar o nosso senso de responsabilidade. E, em se  levando-as à prática,  os capítulos 14 e 15 da Carta de Paulo aos Romanos são paradigmáticos de uma conduta a ser observada em todas as áreas. De forma que licença poética ou liberdade artística, assim como a de   comportamento, independente do meio social ao qual estamos inseridos precisam se ajustar à Palavra e não o contrário. A fim de que não se faça tão gritante a dicotomia entre o que somos e o que fazemos e, pior, como o fazemos (I Pedro 1: 13-21). Arte inclusive. Seja, teatro, dança, música, moda, literatura, para ficarmos apenas naquelas mais cultivadas no nosso meio.

6. Nas primeiras décadas do século passado, o poeta russo Maiakovski tornou famosa a afirmação de que a arte que fosse revolucionária (Dizia em termos de proposição.) deveria encontrar uma/sua forma também revolucionária. Atualíssimo. Melhor dizendo: paradigmático no seu caráter universal. E creio que isso precisa ser pelo menos conceitualmente digerido pelo artista cristão do nosso tempo. Se não quanto a determinados aspectos evangelísticos de nossas propostas e projetos, mas obrigatoriamente no que diz respeito ao caráter discipulador inerente aos mesmos. De modo que o “Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações” (Mateus 28: 19) não se perceba, como acontece às vezes, tão aparentemente incompatível com aquilo que apresentamos (a Deus e aos homens) como sendo (forma ou projeto de) adoração.
O Evangelho, por definição, Boas Novas de Salvação, é uma mensagem. E precisa, sim, ser pregada através de todas as possíveis linguagens para que sejam alcançadas todas as pessoas, sem exceção. E na sua perspectiva evangelística, nada mais balizador que as seguintes afirmações de Paulo: Porque, sendo livre de todos, fiz-me escravo de todos, a fim de ganhar o maior número possível. Procedi para com os judeus, como judeu, a fim de ganhar os judeus; para os que vivem sob o regime da lei, como se eu mesmo assim vivesse, para ganhar os que vivem debaixo da lei, embora eu não esteja debaixo da lei. Aos sem lei, como se eu mesmo o fosse, não estando sem lei para com Deus, mas debaixo da lei de Cristo, para ganhar os que vivem fora do regime da lei. Fiz-me fraco para com os fracos, com o fim de ganhar os fracos. Fiz-me tudo para com todos, com o fim de, por todos os modos (Teologicamente aceitáveis, está implícito.), salvar alguns. Tudo faço por causa do evangelho, com o fim de me tornar cooperador com ele (I Coríntios 9: 19-23). Aplicando-se à arte, eis aí uma diretriz, além de exortativamente performática, inclusivista e apropriadora (Sentido de resgate.). Aplicável, portanto, a  linguagens e formas de expressão, quando principalmente se volta os que delas se utilizam para públicos a elas afeitos, com o fim ganhar os mesmos para Cristo Jesus. Todavia, o limite imposto vem do fato de nós, os cristãos, nos colocarmos debaixo da lei de Cristo. Conclui-se, então, que podemos ser tudo e todos (Identificação sacerdotal, no caso.), desde que não percamos ou contaminemos, com o que estamos a fazer, a nossa essência de Santidade ao Senhor. Esta essência, para não ser desfigurada ou perdida, agora já na perspectiva do discipulado, não precisaria também encontrar/propor sua(s) forma(s) peculiar(es) de expressão? Para sermos mais enfáticos: pautar-se pelo re/dimensionamento de sua própria (ou apropriada) originalidade. Não é o que temos visto com freqüência por aí; antes, pelo contrário. Diríamos, então, parafraseando Maiakovski, que a arte cristã (ou feita por cristãos) deveria propor, ao nível do necessário discipulado, formas (de expressão) autenticamente cristãs. Isso nos levaria inevitavelmente a exclusões, no sentido lato de santidade. Do contrário, há o risco de recair sobre nós a dura sentença constante da carta de Judas, o irmão do Senhor, a qual traz uma admoestação duríssima (Judas 3-4) e que estaria a ganhar muito terreno atualmente, assim como aconteceu ao longo de toda história da Igreja. Até porque ninguém mais ignora que a atual conjuntura é mesmo pré-Apocalipse.

7. O até aqui exposto leva às seguintes indagações: o que deve (ou pode) ser resgatado, na perspectiva evangelística da Grande Comissão, mas para ser obrigatoriamente redimensionado? O que se preservar, a despeito de seu caráter secular ou mundano, intacto? E isso seria mesmo conveniente? Em se tratando de dança, ou de música, ou de teatro ou de moda feminina, principalmente. (Abro o parêntese para fixar-me, ainda que momentaneamente, no caso emblemático desta última modalidade. Pois existe um fantasmagórico Golias a desafiar-nos, o qual precisa urgentemente ser encarado pela cristandade dos países nos quais ao crente é possível dar-se ao luxo: como aliar bom gosto e elegância ao pudor e no sentido bíblico do termo. Entenda-se por pudor a vergonha de exibir o corpo, ostensiva ou sugestivamente, senão _  caso dos que são casados _ à pessoa devida. (I Timóteo 2:8-9)?
Haveria mesmo como evitar as dicotomias entre o ser (cristão) e o fazer arte cristã (ou moda ou o que seja, se é mesmo possível,) meramente secular? E será que em nossas práticas não estamos teimando em querer tornar, como se plausível fosse, obsoletas as exortações do Espírito (II Coríntios 6: 14-7: 1)? Em decorrência disso, quais de nossas atitudes, comportamentos e projetos, mormente ao nível do artístico, suportariam, p. ex.,  sem peso em uma consciência não cauterizada (I Timóteo 4:1-2), a admoestação do apóstolo?  Um leitor desavisado certamente me acusaria de estar fazendo confusão, ao misturar ética e arte. Mas em se tratando de cristãos autênticos ou de cristianismo apostólico no sentido bíblico do termo (Para mim, o único aceitável.), há mesmo como desvencilhar uma da outra coisa? Ser cristão nunca foi uma mera filosofia ou estilo de  vida, mas uma vida que flui. Nossos atos dão conta disso.
DE VOLTA AO  TÚNEL DO TEMPO. Espetáculo e sua conjuntura impactaram-me, ao ponto de fazer aflorarem em mim questões até então alojadas no subconsciente. Às quais, acredito, estão a transitar o íntimo de muitos produtores e consumidores cristãos de cultura, na configuração de algum conflito. Bem resolvê-los torna-se, portanto,imperativo.  É que a pós-modernidade está trazendo perguntas e posturas a exigir rápidas e sábias respostas. Mas pelo fato do mundo jazer no maligno e por as discernimos tanto volumosas quanto dominantes, tendo a me fechar com um autor como Watchman Nee, quando este afirma que é difícil calcular qual parcela da filosofia, da ética, do conhecimento, da pesquisa e ciências do mundo se origina nos poderes das trevas. E, também, que nenhuma palavra do homem é digna de total confiança, a não ser a que se acha em harmonia com o ensino bíblico. Eis a cultura e todas as suas formas de expressão postas em xeque. Num crivo tão criterioso que não poupa nem as “teologias”. Então, joelhos no chão, Bíblia nas mãos e a perspectiva apostólica na cabeça!
No espetáculo que assistimos, houve a meu ver, muitos acertos; mas também equívocos apenas compreensíveis para quem (ou àquilo o que) se postula como que em processo. O próprio termo Oficina de Adoração já nos remete conceitualmente a consertos e concertos (Quero crer.) e a reparos. E é que me encoraja apontá-los, pronto a penitenciar-me, caso esteja em minhas ponderações equivocado. Terminantemente este ensaio seria, para quem ele assim soar, uma discussão em aberto.
Exemplificando, portanto, e em primeiro lugar o elogio. Acertada foi a mão da responsável pela confecção do figurino, ao retirar a carga de sensualidade de alguns trajes coreográficos (tendo-se em vista ser o corpo de baile formando na sua grande maioria por meninas, moças e mulheres), sem essencialmente descaracterizá-los enquanto estilo de época. Aliou-se à necessária sobriedade muita criatividade. Do mesmo modo, alguns passos e movimentos em determinadas coreografias foram exercitados com sábia lentidão e com pouca duração. Privilegiou-se, no caso, a possível contribuição daquela expressão e não a sua utilização indiscriminada, comum em ambientes sem os critérios que nos rege a conduta: santidade, bom senso e a responsabilidade de não defraudarmos o sexo oposto. Bem sabemos que, na vida real e em determinados ambientes, são formas praticadas no mais das vezes em transes febris e mera intenção mundana, no cumprimento do simples e simplório papel de dança de acasalamento. Lascivas por (decaída) natureza. E nem mesmo (como se verificou em alguns momentos do espetáculo) sendo cristã a letra incorporada ao ritmo musical que acompanha tais movimentos, haveria como anular-lhes de todo os efeitos do gestual. Pode-se apenas amenizá-los. E o cadenciamento, aliado à pequena duração das performances, contribuem para tal, uma vez considerado  “obrigatório” o registro.
Quanto aos equívocos, há que se ponderar sobre o aproveitamento ou a leitura não muito sábia de ícones da cultura, assim como (De novo batendo numa mesma tecla...) a viabilidade da utilização de alguns passes de dança. Em minha opinião há casos em que a sua simples utilização gera a dicotomia referida no parágrafo quinto deste ensaio, o qual já vai se tornando exaustivo e, contrariando a sua intenção primordial, postulante.
Então, apenas para exemplificar: na coreografia (ou junção coreográfica) em que um dos atores desfila entre os bailarinos com uma jaqueta a James Dean, conduzindo uma lambreta, remontando-nos, portanto, ao que se denominou juventude transviada. As letras das músicas em execução bem poderiam ser incisivas quanto ao comportamento de risco iniciado àquela altura da contemporaneidade, na opção por um conceitual distanciamento e condenação veemente. De outro modo, não sugestionaria a percepção apologética de um fato histórico lamentável, com seu rastro de perdas que atravessa gerações? E no que diz respeito à utilização ou não de coreografias ou movimentos e passos de dança: houve o momento em que algumas moças saltam, cruzam suas pernas na cintura dos rapazes e se jogam para trás. Gestos que sugerem, forte e inevitavelmente, atracação seguida de espasmo. Pode a coreografia ter surgido naquele espaço de tempo, porém, passa ao largo do decantado romantismo Anos 60. E opto por eximir-me de mais comentários.
CONCLUSÃO: O viés do expectador engajado, como foi sugerido no início deste ensaio, deu-me o necessário distanciamento para propor uma crítica intencionalmente construtiva, observando, porém, uma exortação não condescendente e nem bajuladora. Ao mesmo tempo, a condição de artista cristão, fez-me ousar (Com temor e muito tremor, diria Paulo.) trazer à tona tensões e questões hoje viscerais e inerentes à experiência artística de quase todos. Além do mais, somos membros uns dos outros. De fato, assistir o espetáculo foi bastante esclarecedor e edificante. O bastante para constranger-me à escrita, como que em consideração a todos e a tudo o que festival envolveu. Mormente o corpo a corpo na divulgação do evento, no sentido de se ganhar e cativar um público pelo qual se terá, futuramente, a responsabilidade do discipulado: seja no acompanhamento da evolução artística, seja na padronização do bom gosto para o simples consumo da arte. Creio que o propósito de Deus para a Oficina (como efetivamente já ocorre e o que se testemunhou na apresentação não nos deixa negar) é que ela continue a fazer escola. Daí o peso da responsabilidade. Que haja, então, em todo este arrazoado uma palavra de sabedoria. E o Senhor Jesus nos ilumine os olhos da alma.
                                   
                             Marcos (Madsaiin) Dias
                             Belo Horizonte, Novembro de 2012.