Arte Cristã em Foco:
ANA PAULA NÓBREGA EM CD
SOLO
Marcos Mdsaiin Dias
1/ A grande expectativa que havia em boa
parte da cristandade brasileira chega ao fim, com o lançamento do CD Nada Temerei, que marca a estréia de Ana
Paula Nóbrega em carreira solo. Ana, juntamente com Nívea Soares, é um dos mais
belos timbres de toda a trajetória do Diante do Trono e da música gospel
brasileira. Além disso, possui grande capacidade vocal, o que, em termos de
segurança e recursos técnicos, lhe faculta mostrar-se muito à vontade cantando
quaisquer ritmos, sendo acompanhada por numerosos músicos e coro ou por uma
banda restrita aos elementos essenciais. Canta ao vivo como que num estúdio. E quando
digo isso, lembro-me em particular de uma sua ministração de Anseio, num dos cultos da I.B.L.,
disponível na internet. Em todos os sentidos, inesquecível.
2 / Nós que temos tido a graça em Cristo Jesus, Nosso
Senhor, de sermos ministrados por ela em várias oportunidades, sempre
percebemos em Ana Paula
Nóbrega muito fortemente aquele algo mais, que somente a
unção e a soberana vocação explicam. Para os iniciantes ou aspirantes à condição
de levitas nas igrejas, vale insistir: unção é a capacitação especial concedida
pelo Espírito Santo a alguém, para que exerça no corpo de Cristo determinadas
funções, para as quais talento e habilidades humanas apenas nunca jamais dariam
conta. Requer bagagem e dotação espiritual (O bom depósito, diria Paulo.)
advindos da vida em estreita comunhão com Deus, exigindo também o
reconhecimento de outros, mais experimentados no exercício, de que a excelência
da glória revelada por um determinado vaso, em honra na casa de Deus, emana tão
somente (e para a glória) Dele. Logo, está a anos-luz da mera carreira ou
projeto pessoal no seio da cristandade, em função do que se convencionou chamar
arte gospel.
3/ Os anos de convivência, back vocal e
vocalista no Diante do Trono por certo que amadureceram Ana Paula Nóbrega em
todos os sentidos: mulher de Deus, adoradora e cantora. E somente os detratores
por (decaída) natureza (Ou de plantão, no meio da cristandade.) não reconhecem
naquele ministério e em sua líder, a pastora Ana Paula Valadão Bessa, a
dimensão de um apostolado que, Glórias ao Senhor!, já não mais restrito às artes. Na fase de
transição pela qual passou o Diante do Trono, num passado digamos recente,
mesmo um membro da Igreja Batista de Lagoinha menos atento e a par dos bastidores, entre os
quais me incluo, pode perceber o quanto a Nóbrega foi exigida. Deu conta do
recado; e estava sendo forjada ali para uma obra no Senhor de maior alcance e
possibilidades. E, agora que o primeiro e tão importante passo foi dado, é bom
saber que nossa tão querida adoradora pode contar com a intercessão de muitos.
E isso vale bem mais que os aplausos e delírios de fãs.
4 / Sobre Nada
Temerei, confesso que minhas expectativas aumentaram, quando da
divulgação da canção tema. Sabemos do
estilo arrojado de Ana Paula Nóbrega, quando em ministração. Geralmente,
canta com forte emoção e entrega; e, quase que invariavelmente, dirige à
assembléia palavras de exortação profética, no ensejo de identificar-se com o
público em suas necessidades espirituais e fazer com que o mesmo também se
identifique às verdades espirituais salmodiadas. Daí que, certo flerte da
realmente muito boa NADA TEMEREI com o estilo denominado na cristandade
brasileira Pentecostal, poderia soar como indicativo de limitação quanto ao
repertório, e mesmo em Ana, enquanto compositora, uma vez que assina sozinha ou
em parceria todas as canções do CD. Mas
Nóbrega, como era de se esperar, foi bastante feliz nas composições e na
escolha. E, em decorrência disso, fica evidente o seu se mostrar tão à vontade num
passeio por canções diversas, entre baladas devocionais e pop-rock em sua
maioria. E pode ela até mesmo, dado o estilo inconfundível, o timbre
privilegiadíssimo e a grande capacidade vocal, redimensionar uma ou outra musica,
às quais dificilmente lograriam a mesma força de expressividade noutra voz ou
cantadas sem a mesma entrega.
5/ Nada
Temerei é aberto com uma seqüência
(digamos louvoreufórica) de três
canções, nas quais o pop se faz mais leve,
dançante; e, em se tratando da poesia, o prazer e o por quês do servir a
Deus com alegria são exaltados. Destaque para BENDIGA AO SENHOR que, além de
dar conta do recato, inova quanto proposta musical, num quadro geral (da musica
gospel e brasileira) pouco propenso à autenticidade nas inovações. Fecham o
trabalho, como que renovando à disposição inicial, dois pop-rock, agora mais
pesados; entre eles, o envolvente EU QUERO TEU FOGO. Neste, a mensagem de busca
por avivamento pessoal é muito valorizada pela felicidade do arranjo e da
performance dos músicos (Aliás, um dos pontos forte de todo o trabalho.),
sobressaindo a sustentação rítmica, em função principalmente do brilhantismo do
batera e do guitarrista em seu solos. Mas destaca-se o CD, a meu ver, pelo seu conjunto
de baladas devocionais, antecedidas pelo belíssimo blues SEMPRE POR PERTO. Ambos trazem versos fortíssimos, e todos eles
nos permitindo a fruição do melhor da adoradora Ana Paula Nóbrega, em se
tratando de timbre e entrega.
6/ Em ESTOU AQUI, a canção em forma de derramamento e
súplica por dependência, refrigério e renovação espiritual, implicou em versos
do naipe:
Eu
preciso ajustar a visão
Aquietar
este meu coração
Preciso
Te ouvir falar, preciso Te ouvir falar
Vem,
Senhor, segurar minha mão
Me
tirar dessa agitação
Vem me
desacelerar, desacelerar
Oportuníssimos e de altíssima relevância para
os nossos dias e geração. A canção e cântico de Ana, mais a fidelidade e
felicidade do acompanhamento, nos passam toda a carga de expressividade
necessária à fruição da mensagem, atualíssima.
Temos ainda, entre outras, a belíssima MAIS e
uma obra-prima em melodia e letra, a já aqui referida, SEMPRE POR PERTO. Na primeira, a dolência da própria
canção e na voz de Ana Paula Nóbrega, dado o seu timbre privilegiadíssimo, soma-se
à simplicidade de uma poesia em que a busca por mais de Deus é a tônica. E
temos como resultado, um efeito de sentido apropriado. E quanto à segunda, há
de merecer o comentário que se segue, até por ser emblemática da felicidade do
projeto musical na sua totalidade.
Uma escolha de repertório não pode basear-se
apenas na qualidade e/ou na autoria das canções; mas, principalmente, na
adequação das mesmas à capacidade artística do adorador; assim como na pertinência
da concepção e execução dos arranjos, com pena de se mostrar a escolha (no geral
ou em um ou outro caso específico) aquém ou além das partes envolvidas.
No repertório em geral e, mais especialmente em SEMPRE POR PERTO,
toda a capacidade de Ana Paula Nóbrega, se assim podemos dizer, como intérprete,
foi exigida, para se revelar ainda mais digna de louvores a Deus, pelo o Ele nos tem dado,
através do ministério de nossa irmã. Noutro timbre ou cantada por alguém sem a
mesma condição, a canção em questão, p. ex., um blues
de forte marcação rítmica, intensa e extensa quanto à exigência de seus agudos
e de duração razoavelmente prolongada, estaria comprometida. Uma audição mais
atenta dá-nos a percepção ter lhe faltado, como apoio, um grupo de back vocals, exigência do próprio gênero?
Mas o que poderia soar como irreparável perda, foi bem compensado pela
qualidade dos músicos, com já frisamos, outro ponto alto de todo o trabalho. E
cabe destacar que SEMPRE POR PERTO, numa belíssima combinação entre o Salmo 139
e assertiva paulínea sobre o amor que nos constrange, é coroada com os
seguintes versos:
Onde estou, para aonde eu vou
Tu estás sempre por perto
Não há como fugir desse amor e nem quero
A compositora Ana Paula Nóbrega foi muito
feliz ao unir a mais importante poesia produzida pelo homem com um dos
considerados mais criativo e representativo estilo musical da história da
música. Além da reverente referência a dois ícones, um da modernidade e outro
da antiguidade, repôs as coisas em seus devidos lugares; dizendo, nas linhas
dos seus versos e nas entrelinhas das releituras, que amor rasgado (de todo
coração, alma, força e entendimento), enfim, adoração, se deve somente a Deus.
Apesar de não fugir ao caráter de criação em cima do já feito, é música com
vocação para tornar-se um clássico.
7/ Por se tratar de uma audifruição inicial; na qual fomos impactados tanto pelo fim de uma
de nossas mais acariciadas expectativas, quanto pela necessidade e oportunidade
da obra; além, é claro, do fato de sermos suspeito para falar, apaixonado que
sou pela voz feminina num cântico de adoração e membro da mesma igreja local; é
bem possível que o meu eventual leitor, acompanhante da carreira e intercessor
de Ana Paula Nóbrega (Recuso
terminantemente os termos fã, fã-clube e coisas do gênero.), estranhe a
ausência de comentário sobre TU ÉS A FONTE e PRA TE ADORAR ou, quem sabe, uma outra
peça não destacada nesse ensaio crítico, regido inevitavelmente pelo gosto
pessoal. Dessas direi apenas, na modesta opinião de quem sabe música
tão-somente de ouvido e tem agora um filho iniciando música na UFMG, que são
canções com forte vocação para se tornarem clássico. E nada nos resta, senão
ouvir e enlevarmo-nos. Orando sempre para que a trajetória espiritual de Ana
Paula Nóbrega não deixe de fazer jus ao bom depósito que lhe tem confiado o
Senhor. Como se diz, para a nossa alegria.
Belo Horizonte, Março de 2013.
Obra: CD Nada Temerei
Artista: Ana Paula Nóbrega
Gravadora: Som Livre
Gênero da Crítica: Ensaio